domingo, 19 de novembro de 2017

PECADO OU FALTA DE ÉTICA?

Em uma manhã de domingo chuvoso e bastante preguiçoso olha, já começo cometendo “pecado”, (quando criança a preguiça era tida como pecado) vem me a mente a discussão do dia anterior nas redes sociais sobre um tema muito discutido pelos pensadores ao longo do tempo. O que vem a ser o “PECADO”? muitos foram os pensadores que debruçaram-se sobre o tema, selecionei para este pequeno artigo apenas alguns deles como referência sobre o assunto.
Como esta discussão requer um pensamento voltado para fé na tentativa de traze-lo para a razão começo nossa conversa resgatando um pouco do grande pensador contemporâneo Imannuel Kant 1724-1804.
Kant é famoso sobretudo pela elaboração do denominado idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e conceitos a priori (aqueles que não vêm da experiência) para a experiência concreta do mundo, os quais seriam de outra forma impossíveis de determinar” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant).
[…] O combate que todo homem moralmente bem intencionado deve vencer nesta vida sob a direção do princípio bom contra os ataques do princípio mau nenhuma vantagem maior lhe pode proporcionar, por muito que se esforce, do que a libertação do domínio deste último. Ser livre, “libertar-se da servidão sob a lei do pecado a fim de viver para a justiça”, tal é o ganho supremo que ele pode alcançar. Mas nem por isso deixa de estar sempre exposto aos assaltos do princípio do mal; e a fim de afirmar a sua liberdade, que é constantemente atacada, deve doravante manter-se sempre preparado para a luta. (KANT Edições 70, pg 99)
“Desta forma o triunfo sobre o mau teria a fundação de um reino de Deus na Terra”. (Idem)
Desta forma nos coloca de maneira sutil e racional que a responsabilidade de vencer o mau através do bem se faz através da tolerância ampla e irrestrita, só o respeito mútuo pode nos conduzir a condição de homens e mulheres livres e de bons costumes. Kant nos deixa um legado que o pecado nada mais e do que a transgressão das normas morais estabelecidas na sociedade, que independentemente de religiões devemos ser éticos ao ponto de combater o mau com a prática constante do bem.
[…] Em primeiro lugar, pretende ele que não é a observância de deveres civis externos ou de deveres eclesiais estatutários, mas apenas a pura intenção moral do coração, o que pode tornar o homem agradável a Deus (Mat V, 20-48); que, diante de Deus, o pecado em pensamento é considerado igual ao acto (V, 28) e que, em geral, a santidade é a meta a que o homem devem aspirar (V, 48); que, por exemplo, odiar no coração equivale a matar (V, 22); que uma injustiça feita ao próximo só pode ser reparada pela satisfação feita a ele mesmo, e não por ações cultuais (V, 24) e, quanto à veracidade, o meio civil de extorsão 59 , o juramento, causa antes dano ao respeito pela verdade (V, 34-37); que a propensão natural, mas má, do coração humano se deve totalmente inverter; que o doce sentimento da vingança se tem de converter em paciência (KANT Edições 70, pg 161).
Encontramos uma linha de pensamento muito esclarecedora em Leibniz, Wilhelm Leibniz 1646-1716 – Alemanha que foi polímata, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão. (Fim da Idade média, início da Idade Moderna).
[...] Também é necessário afirmar que Deus, como arquiteto, satisfaz em tudo para Deus, como Legislador, e isso, portanto, os pecados devem suportar sua pena pela ordem da natureza e da virtude, precisamente, da estrutura mecânica das coisas, e que as boas ações, da mesma forma, obterão suas recompensas por meios mecânicos em relação aos corpos, embora isso não possa e não deve acontecer sempre imediatamente.
([...] Finalmente, sob este governo perfeito, não haverá boa ação sem recompensa, nem má sem punição, e tudo deve convergem no bem do bem, isto é, daqueles que em nada estão descontentes neste grande estado, que dependem da providência, depois de ter cumprido o seu dever, e que amam e imitam, como é devido, o autor de todos os bens, entregando-se à consideração de suas perfeições de acordo com a natureza do verdadeiro amor puro. ( LEIBNIS, 1981, PAG. 155).
Observa-se neste pensamento uma grande relação entre causa e efeito, tudo o que fizer de mau retornará da mesma forma, ou seja se plantares sementes de tomates, colherá tomates e assim por diante. Percebe-se claramente que tudo caminha entre conceitos terrenos e transcendentais, o homem transporta toda sua angustia do bem e do mal, do permitido e do não permitido para o campo transcendental ou religioso com o objetivo final de ser perdoado pelos pecados ou erros cometidos, tem-se então que se não existisse perdão não existiria pecado.
Espera com todo ardor que exista um Juiz que irá lhe conceder o almejado perdão pelos pecados cometidos, e este juiz não pode ser humano, não tem valor, tem que ser um Juiz acima de tudo e de todos, e nesta angustiante necessidade de ser perdoado elege um “deus" para esta tarefa.
Vamos conhecer um pouco do pensamento de um grande empirista Francis Bacon, político, filosofo, ensaísta considerado o fundador da ciência moderna 1561-1626 (Idade Média).
[…] Pelo pecado o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas. Ambas as perdas podem ser reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida; a primeira com a religião e com a fé, a segunda com as artes e com as ciências. Pois a maldição divina não tornou a criatura irreparavelmente rebelde; mas, em virtude daquele diploma: Comerás do pão com o suor de tua fronte, por meio de diversos trabalhos (certamente não pelas disputas ou pelas ociosas cerimônias mágicas), chega, enfim, ao homem, de alguma parte, o pão que é destinado aos usos da vida humana. (BACON, 2000, Pag. 202
Nota se no pensamento de Francis Bacon uma conotação religiosa sobre o pecado, deixando para trás as ideias da Idade Média e partindo para Idade Moderna (Renascentismo), começa surgir na época o culto a estética o homem afasta se gradualmente do conceito religioso da época sem se afastar de Deus e nesta condição coloca que o pecado pode ser revertido através da fé ou das artes e da ciência,
[…] Só então poderemos dizer ter colocado nas mãos dos homens, como justo e fiel tutor, as suas próprias fortunas, estando o intelecto emancipado e, por assim dizer, liberto da menoridade; daí, como necessária, segue-se a reforma do estado da humanidade, bem como a ampliação do seu poder sobre a natureza. (idem, pag. 202).
Evidentemente as citações lançadas no texto não nos dá uma reação clara a que Francis Bacon está se referindo para uma compreensão maior e melhor faz se necessário a leitura da obra como um todo, pois trata-se de uma obra que indica interpretação acerca da natureza.
Viajando para o mundo contemporâneo encontramos vários atores que debruçaram se no tema em questão, utilizarei um pouco do conhecimento do professor Álvaro L. M. Valsa particularmente do livro O que é Ética, filosofo contemporâneo enfático na História da Filosofia aborda temas de Kiekegaard, Socratismo, Nietzsche, Adorno.
[...] Voltemos ao exemplo da Idade Média. Ao redor do ano 1000, a relação incestuosa atingia até o sétimo grau. Casar com uma prima de até sétimo grau era um crime e um pecado. Mas, se a quase totalidade era analfabeta, como conhecer bem a árvore genealógica? O costume então era bastante matreiro: os nobres se casavam sem perguntar pela genealogia, e só se preocupavam com o incesto quando eventualmente desejassem dissolver o casamento, anulando-o. Não era difícil, então, conseguir um monge letrado ou mesmo testemunhas compradas, para demonstrar o impedimento e anular o casamento. Graças ao incesto, o nobre podia tentar várias vezes, até conseguir ganhar um filho homem, o que era, muitas vezes, a sua real preocupação, por causa da linhagem, do nome e da herança. (Vall, 1994, pag. 14)
Nota se ai uma conotação dos problemas da atualidade onde o poder dominante seja ele político ou privado ou aquele que pensa possuir o poder sobrepõe sobre o negro, o pobre, a mulher etc. na tentativa de alcançar algum ganho pessoal.
Quanto a pedofilia tão discutida na atualidade e normalmente em maior escala nos meio religiosos a crueldade mostra sua cara com todo seu horror e quando surpreendido pelas garras da lei, alega inocência, ou que não cometeu o delito. E tendo o poder ao seu lado normalmente é absolvido e caído no esquecimento. Isto porque os analfabetos de hoje são os mesmos de ontem, só evoluíram em espécie porém o intelecto vem se atrofiando com o passar dos anos.
[…] Todos sabem que as
Influências de uma certa visão religiosa, que não explicava bem o que entendia por carne (sinônimo de pecado), em muitas épocas foram responsáveis por um moralismo centrado nas questões do sexo. Quando, então, certos religiosos criticam o pansexualismo de um Freud, por exemplo, muitas vezes se esquecem de que eles mesmos, em sua moral,
Fizeram tudo girar ao redor desta questão, e geralmente numa perspectiva sectária que, mais do que cristã, era platônica no mau sentido da palavra. Esta identificação da moral com a preocupação com o sexo invadiu, porém, até as cabeças de gente não ligada à religião. (Valle, 1994, pag, 38) […] Finalmente confrontando o pensamento grego antigo com o cristão, Kierkegaard percebeu que para os gregos o pecado seria apenas ignorância. Para Sócrates e Platão, diz ele, o problema ético era, no fundo, um problema da teoria: a única coisa importante para o homem seria "conhecer o bem”, porque daí se seguiria necessariamente um "agir bem". Os gregos não compreendiam, então, que se pudesse fazer o mal, conhecendo o bem; de modo que o homem mau seria sempre (apenas) um ignorante, que poderia e deveria ser curado pela filosofia. (Idem, pag, 60)
Após as narativas de tão renomados pensadores podemos dizer que os conceitos de pecado no sentido religioso está contido no código de conduta moral definido em cada grupo religioso, tais como não realizar relações sexuais antes do casamento, união de pessoas do mesmo sexo, homossexualidade, etc.
No campo social fazer o mau em detrimento do bem é antiético, o que seria esta condição não respeito as normas estabelecidas pelo estado e vai por ai afora.
Quanto a falta de respeito ao próximo é uma questão de caráter, mesmo não concordando com as atitudes do outro tenho que repetia-las, como dizia Voltaire “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.”

BIBLIOGRAFIAS:
Kant, Imannuel, A Religião nos Limites da Simples Razão, Ed, 70, Brasil

Leibniz, Monadología, Pentalfa, Oviedo 1981. Edición trilingüe. Introducción de Gustavo Bueno

Bacon, Francis, Novum Organum, Virtual Books Online M&M Editores Ltda.
MG

Valls, Álvaro L. M, O que é Ética, Edit. Brasiliese, 1994

Autor: Wagner Passos, Filosofo e pós graduado em Pedagogia Empresarial.











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