Em uma manhã de domingo chuvoso e bastante
preguiçoso olha, já começo cometendo “pecado”, (quando criança
a preguiça era tida como pecado) vem me a mente a discussão do dia
anterior nas redes sociais sobre um tema muito discutido pelos pensadores ao longo do tempo. O que vem a ser o “PECADO”? muitos foram os pensadores que debruçaram-se sobre o tema, selecionei
para este pequeno artigo apenas alguns deles como referência
sobre o assunto.
Como esta discussão requer um pensamento
voltado para fé na tentativa de traze-lo para a razão começo nossa
conversa resgatando um pouco do grande pensador contemporâneo
Imannuel Kant 1724-1804.
“Kant é famoso sobretudo pela elaboração
do denominado idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e
conceitos a priori (aqueles que não vêm da experiência) para a
experiência concreta do mundo, os quais seriam de outra forma
impossíveis de determinar”
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant).
[…] O combate que todo homem
moralmente bem intencionado deve vencer nesta vida sob a direção do
princípio bom contra os ataques do princípio mau nenhuma vantagem
maior lhe pode proporcionar, por muito que se esforce, do que a
libertação do domínio deste último. Ser livre, “libertar-se da
servidão sob a lei do pecado a fim de viver para a justiça”, tal
é o ganho supremo que ele pode alcançar. Mas nem por isso deixa de
estar sempre exposto aos assaltos do princípio do mal; e a fim de
afirmar a sua liberdade, que é constantemente atacada, deve
doravante manter-se sempre preparado para a luta. (KANT Edições 70,
pg 99)
“Desta forma o triunfo sobre o mau teria a
fundação de um reino de Deus na Terra”. (Idem)
Desta forma nos coloca de maneira sutil e
racional que a responsabilidade de vencer o mau através do bem se
faz através da tolerância ampla e irrestrita, só o respeito mútuo
pode nos conduzir a condição de homens e mulheres livres e de bons
costumes. Kant nos deixa um legado que o pecado nada mais e do que a
transgressão das normas morais estabelecidas na sociedade, que
independentemente de religiões devemos ser éticos ao ponto de
combater o mau com a prática constante do bem.
[…] Em primeiro lugar, pretende
ele que não é a observância de deveres civis externos ou de
deveres eclesiais estatutários, mas apenas a pura intenção moral
do coração, o que pode tornar o homem agradável a Deus (Mat V,
20-48); que, diante de Deus, o pecado em pensamento é considerado
igual ao acto (V, 28) e que, em geral, a santidade é a meta a que o
homem devem aspirar (V, 48); que, por exemplo, odiar no coração
equivale a matar (V, 22); que uma injustiça feita ao próximo só
pode ser reparada pela satisfação feita a ele mesmo, e não por
ações cultuais (V, 24) e, quanto à veracidade, o meio civil de
extorsão 59 , o juramento, causa antes dano ao respeito pela
verdade (V, 34-37); que a propensão natural, mas má, do coração
humano se deve totalmente inverter; que o doce sentimento da
vingança se tem de converter em paciência (KANT Edições 70, pg
161).
Encontramos uma linha de pensamento muito
esclarecedora em Leibniz, Wilhelm Leibniz 1646-1716 – Alemanha que
foi polímata, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário
alemão. (Fim da Idade média, início da Idade Moderna).
[...] Também é necessário
afirmar que Deus, como arquiteto, satisfaz em tudo para Deus, como
Legislador, e isso, portanto, os pecados devem suportar sua pena pela
ordem da natureza e da virtude, precisamente, da estrutura mecânica
das coisas, e que as boas ações, da mesma forma, obterão suas
recompensas por meios mecânicos em relação aos corpos, embora isso
não possa e não deve acontecer sempre imediatamente.
([...] Finalmente, sob este
governo perfeito, não haverá boa ação sem recompensa, nem má sem
punição, e tudo deve convergem no bem do bem, isto é, daqueles que
em nada estão descontentes neste grande estado, que dependem da
providência, depois de ter cumprido o seu dever, e que amam e
imitam, como é devido, o autor de todos os bens, entregando-se à
consideração de suas perfeições de acordo com a natureza do
verdadeiro amor puro. ( LEIBNIS, 1981, PAG. 155).
Observa-se neste pensamento uma grande relação
entre causa e efeito, tudo o que fizer de mau retornará da mesma
forma, ou seja se plantares sementes de tomates, colherá tomates e
assim por diante. Percebe-se claramente que tudo caminha entre
conceitos terrenos e transcendentais, o homem transporta toda sua
angustia do bem e do mal, do permitido e do não permitido para o
campo transcendental ou religioso com o objetivo final de ser
perdoado pelos pecados ou erros cometidos, tem-se então que se não
existisse perdão não existiria pecado.
Espera com todo ardor que exista um Juiz que
irá lhe conceder o almejado perdão pelos pecados cometidos, e este
juiz não pode ser humano, não tem valor, tem que ser um Juiz acima
de tudo e de todos, e nesta angustiante necessidade de ser perdoado
elege um “deus" para esta tarefa.
Vamos conhecer um pouco do pensamento de um
grande empirista Francis Bacon, político, filosofo, ensaísta
considerado o fundador da ciência moderna 1561-1626 (Idade Média).
[…] Pelo pecado o homem perdeu
a inocência e o domínio das criaturas. Ambas as perdas podem ser
reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida; a primeira com a
religião e com a fé, a segunda com as artes e com as ciências.
Pois a maldição divina não tornou a criatura irreparavelmente
rebelde; mas, em virtude daquele diploma: Comerás do pão com o suor
de tua fronte, por meio de diversos trabalhos (certamente não pelas
disputas ou pelas ociosas cerimônias mágicas), chega, enfim, ao
homem, de alguma parte, o pão que é destinado aos usos da vida
humana. (BACON, 2000, Pag. 202
Nota se no pensamento de Francis Bacon uma
conotação religiosa sobre o pecado, deixando para trás as ideias
da Idade Média e partindo para Idade Moderna (Renascentismo), começa
surgir na época o culto a estética o homem afasta se gradualmente
do conceito religioso da época sem se afastar de Deus e nesta
condição coloca que o pecado pode ser revertido através da fé ou
das artes e da ciência,
[…] Só então poderemos dizer
ter colocado nas mãos dos homens, como justo e fiel tutor, as suas
próprias fortunas, estando o intelecto emancipado e, por assim
dizer, liberto da menoridade; daí, como necessária, segue-se a
reforma do estado da humanidade, bem como a ampliação do seu poder
sobre a natureza. (idem, pag. 202).
Evidentemente as citações lançadas no texto
não nos dá uma reação clara a que Francis Bacon está se
referindo para uma compreensão maior e melhor faz se necessário a
leitura da obra como um todo, pois trata-se de uma obra que indica
interpretação acerca da natureza.
Viajando para o mundo contemporâneo
encontramos vários atores que debruçaram se no tema em questão,
utilizarei um pouco do conhecimento do professor Álvaro L. M. Valsa
particularmente do livro O que é Ética, filosofo contemporâneo
enfático na História da Filosofia aborda temas de Kiekegaard,
Socratismo, Nietzsche, Adorno.
[...] Voltemos ao exemplo da Idade
Média. Ao redor do ano 1000, a relação incestuosa atingia até o
sétimo grau. Casar com uma prima de até sétimo grau era um crime e
um pecado. Mas, se a quase totalidade era analfabeta, como conhecer
bem a árvore genealógica? O costume então era bastante matreiro:
os nobres se casavam sem perguntar pela genealogia, e só se
preocupavam com o incesto quando eventualmente desejassem dissolver o
casamento, anulando-o. Não era difícil, então, conseguir um monge
letrado ou mesmo testemunhas compradas, para demonstrar o impedimento
e anular o casamento. Graças ao incesto, o nobre podia tentar várias
vezes, até conseguir ganhar um filho homem, o que era, muitas vezes,
a sua real preocupação, por causa da linhagem, do nome e da
herança. (Vall, 1994, pag. 14)
Nota se ai uma conotação dos problemas da
atualidade onde o poder dominante seja ele político ou privado ou
aquele que pensa possuir o poder sobrepõe sobre o negro, o pobre, a
mulher etc. na tentativa de alcançar algum ganho pessoal.
Quanto a pedofilia tão discutida na atualidade
e normalmente em maior escala nos meio religiosos a crueldade mostra
sua cara com todo seu horror e quando surpreendido pelas garras da
lei, alega inocência, ou que não cometeu o delito. E tendo o poder
ao seu lado normalmente é absolvido e caído no esquecimento. Isto
porque os analfabetos de hoje são os mesmos de ontem, só evoluíram
em espécie porém o intelecto vem se atrofiando com o passar dos
anos.
[…] Todos sabem que as
Influências de uma certa visão
religiosa, que não explicava bem o que entendia por carne (sinônimo
de pecado), em muitas épocas foram responsáveis por um moralismo
centrado nas questões do sexo. Quando, então, certos religiosos
criticam o pansexualismo de um Freud, por exemplo, muitas vezes se
esquecem de que eles mesmos, em sua moral,
Fizeram tudo girar ao redor desta
questão, e geralmente numa perspectiva sectária que, mais do que
cristã, era platônica no mau sentido da palavra. Esta
identificação da moral com a preocupação com o sexo invadiu,
porém, até as cabeças de gente não ligada à religião. (Valle,
1994, pag, 38) […] Finalmente confrontando o pensamento grego
antigo com o cristão, Kierkegaard percebeu que para os gregos o
pecado seria apenas ignorância. Para Sócrates e Platão, diz ele, o
problema ético era, no fundo, um problema da teoria: a única coisa
importante para o homem seria "conhecer o bem”, porque daí se
seguiria necessariamente um "agir bem". Os gregos não
compreendiam, então, que se pudesse fazer o mal, conhecendo o bem;
de modo que o homem mau seria sempre (apenas) um ignorante, que
poderia e deveria ser curado pela filosofia. (Idem, pag, 60)
Após as narativas de tão renomados pensadores
podemos dizer que os conceitos de pecado no sentido religioso está
contido no código de conduta moral definido em cada grupo religioso,
tais como não realizar relações sexuais antes do casamento, união
de pessoas do mesmo sexo, homossexualidade, etc.
No campo social fazer o mau em detrimento do
bem é antiético, o que seria esta condição não respeito as
normas estabelecidas pelo estado e vai por ai afora.
Quanto a falta de respeito ao próximo é uma
questão de caráter, mesmo não concordando com as atitudes do outro
tenho que repetia-las, como dizia Voltaire “Não
concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último
instante o teu direito de dizê-la.”
BIBLIOGRAFIAS:
Kant,
Imannuel, A Religião nos Limites da Simples Razão, Ed, 70, Brasil
Leibniz,
Monadología, Pentalfa, Oviedo 1981. Edición trilingüe.
Introducción de Gustavo Bueno
Bacon,
Francis, Novum Organum, Virtual Books Online M&M Editores Ltda.
MG
Valls,
Álvaro L. M, O que é Ética, Edit. Brasiliese, 1994
Autor: Wagner Passos, Filosofo e pós graduado em Pedagogia Empresarial.